Friday, September 03, 2004

Meu Amigo Seth



Na minha casa moravam dois colombianos, mais eu e um argentino. Quando Jorge, o bailarino argentino foi embora, entrou no seu lugar um americano chamado Seth. Me disseram que ele vinha da califórnia e que era cineasta-barra-roteirista. Ou algo do tipo. Se mudaria para o apartamento num sábado. O cara se mudou e pelas primeiras duas semanas o cara não aparecia nunca em casa. Ou eu não sabia se ele tava lá ou não - quando eu saía de casa no final da manhã, encontrava a porta sempre fechada, entre os colombianos Gabriel e Mauricio nos fazíamos a piada “Zed is dead, baby. Zed is dead” - citando uma fala de Pulp Fiction. Naquela semana eu achava que o nome dele se escrevia assim. E os dias se passaram. Quase um mês depois do cara ter se mudado para o meu apartamento e eu não tinha idéia de como ele era. Um dia ele saiu do quarto de pijama por volta do meio-dia e eu finalmente pude cumprimentá-lo. Mas logo entrou no banheiro e eu saí para trabalhar. Dois dias depois eu já tinha me esquecido como era a cara do sujeito.



Uma noite, quando eu voltava pra casa do trabalho, me deparei com uma pequena festinha que rolava no apartamento logo abaixo do meu. Botei a chave na fechadura e uma moca que descia do terraço cruzou por mim. Perguntei de quem era a festa e ela me disse que achava que era de um tal Mikey (não sei como se escreve mas ela disse 'Maiqui'). Desci ate o andar de baixo e entrei pela porta que estava destrancada. Perguntei por Mikey, e me perguntaram quem eu era. Disse que era o vizinho de cima e logo me ofereceram uma cerveja. O vizinho me cumprimentou e começou com uma bateria de perguntas sobre quem eram os meus colegas de apartamento e sobre o que nos fazíamos. E eu falei quem eram todos ate chegar em Seth, o cara novo. Disse que fazia um mês que o cara estava no apartamento e que não sabia nada sobre o cara nem mesmo me lembrava como ele era fisicamente. O vizinho, que depois fui saber que não era o Mikey, disse que conhecera o Seth e me apontou para um cara atirado no sofá quase dormindo, com uma latinha de ceva numa mão e um cigarro na outra. “Deixe-me apresenta-los” - falou o vizinho. Era o proprio. Ficamos ali conversando aos berros para ouvir um ao outro, em meio a um festival de musicas soul no máximo volume que um bando de nerds pulavam e se chacolejavam num culto a falta de senso do ridículo. Percebi que aquela altura só haviam três mulheres na festa e elas deveriam de ter sido escolhidas a dedo por serem as mais feias que alguém pode achar em Nova Iorque. Assim, convidei o Seth para cair fora. Mas antes passamos na geladeira, surrupiamos mais duas cervejas do vizinho e subimos para casa. Lá em casa finalmente pude conversar com Seth e descobrir o que o cara realmente fazia. Era um vagabundo. Dormia ate tarde, e depois ia pra casa da ex-namorada, onde estava o seu computador onde ele escrevia. Diz ele que estava terminando um roteiro e que pretendia descolar um agente para tentar vende-lo. Mostrei para o Seth meus filmes e ate um roteiro que eu fiz na universidade. Ele ate hoje não me disse do que se trata o seu roteiro. Pra falar a verdade, duvido que ele esteja ainda escrevendo.



Seth é filho de artistas plásticos. Seu pai trabalhou como construtor em projetos com vários de artistas importantes, como Roy Litchenstein, Robert Rauchemberg e outros que eu não lembro mais o nome. Hoje seus pais moram na Florida e estão envolvido em algum micro-negocio. (ou nenhum negocio, também não me lembro essa parte). O avo de Zeth era um cara muito rico e deixou para ele e pra irmã dele uma boa grana da qual ele vive. Ele ainda fez cursos de cinema na NYU e na New School. Trabalhou em alguns filmes independentes mas nada muito sério. No quarto do Seth não tinha muita coisa além da cama e uma mesinha de cabeceira com uns livros. Porém ele abriu o seu armário e tirou uma câmera digital Cannon muito filha-da-puta. Linda. A essas alturas, Mauricio, que se formou em cinema em Londres e trabalha na área por aqui já está acordado com o barulho da nossa conversa e baba junto comigo sobre a câmera do cara. Fazemos um pacto ali mesmo que teríamos que filmar alguma coisa ainda no verão antes das aulas começarem.



Passaram-se dois meses e ainda não filmamos nada. Porem descobri um amigo gente boa, sempre de bom-humor que acorda e desce a Deli pra comprar o New York Post e ficar comentando noticias absurdas com muita ironia. De qualquer maneira o verão ia passando e eu resolvi cutucar o cara pra ver se agente fazia alguma coisa. Pensamos em fazer um curta em cima de um conto do Bukowski, mas não levamos adiante. Pensei em convidar um pessoal modelo e fazer um vídeo de um amigo nosso que produz umas camisetas, mas passado o entusiasmo das primeiras idéias acabamos por achar que o vídeo ficaria mesmo muito cafona essa idéia também foi abandonada. Outro dia quando voltava pra casa depois do trabalho subia as escadas carregando minha bicicleta no ombro ate o quarto andar quando me encontrei com Mikey. Aquele do andar de baixo. Ele perguntou se eu morava lá. Tive que me apresentar de novo para o idiota. Ele perguntou quem morava ali em cima junto. Perguntou sobre o Jorge. Depois que eu alcancei o quarto andar e pude tirar a bicicleta do ombro perguntei se eles não tocavam numa banda (eu sabia que eles tinham uma banda). Pois bem, Mikey era baterista de uma banda e seu outro colega de quarto também tocava em outra banda. Me ofereci pra fazer um clipe, disse que tinha câmera, material de edição e um monte de idéia maluca. Ele achou legal e disse que ia nos avisar qualquer coisa.



Mauricio e o outro colombiano. Apesar de ser um engenheiro de som formado, sua profissão atual e comandar um bar onde ele e sócio junto com outro colombiano no Lower East Side. O bar se chama Crudo tem sido muito bem freqüentado nesse verão. Semana passada teve uma festa por lá, um DJ com um laptop e umas pick-ups no jardim que fica atrás do bar, todo iluminado com velas e um telão onde passavam vídeos de skate. Ao chegar lá encontrei umas amigas colombianas, duas barangas - se querem saber a verdade. Em seguida chegou o Zeth. Falei pra ele que havia falado com Mikey e que eu tinha nos oferecido pra fazer um clipe. Seth gostou da ideia, ele se entusiasma com tudo. Saímos dali e fomos para um bar búlgaro onde tocava uma musica meio árabe-latina-russa ou tudo o que soar perto a essa mistura, bem engraçado. Um tipo dançava equlibrando um copo na cabeça, outro resolveu equilibrar uma cadeira com a boca. Eu e as colombianas dançávamos de cirandinha.

Na manha seguinte, quando fui buscar uma comida chinesa perto da minha casa, cruzei pelo Mikey na rua, mas ele não me reconheceu.

Noutro dia perguntei pro Zeth como andava o roteiro que ele tava escrevendo. Ele disse que largou o que estava fazendo e começou outro. Fazem três dias que o Zeth não aparece em casa. Simplesmente desapareceu. Hoje paguei minha faculdade e em breve começo a ter aula quase todos os dias. Acho que eu e o Seth jamais vamos fazer aquele vídeo que tínhamos prometido. Que figura.

Tuesday, August 17, 2004

Fragmentos de um roteiro 4

(It probably won't make any sense if anybody attempts to read this, but fuck it. It makes sense to me. I'm just putting down some ideas, ok?)

ASTRONAUT (OFF CAM.)
...'I wish I could wake up and look at you - lying on the bed, next to me. '

He turn around in bed and faces THE GIRL looking at him and smiling. He speaks to her.

ASTRONAUT
'I don't feel homesick but I do miss you a lot'.

The girl keeps smiling. He breathes heavily. He reaches out to her and takes THE PICTURE OF HER LYING IN BED off the wall.

ASTRONAUT (OFF CAM.)
'If I close my eyes I can still see your face, and I'm not without you'.

He closes his eyes

WHITE FADE

EXT - CONEY ISLAND - DAY

We 're moving in the sand until we reach her feet walking. The astronaut is looking down. He looks up to her smiling. Wide shot, his all alone in the beach. He stops, lays down. Cameras upside down he sees her aproaching.

ASTRONAUT (OFF CAM)
'If I try hard and concentrate, I can see you sayin...'

HER
'I Missed you.'

He laughs.

ASTRONAUT (OFF)
I want to make a movie here one day.

We see a couple running in the beach (perhaps a scene copyed from jules et jim). We see the Astronaut with his hand trying to imitate a camera, running after an invisible act.

He laughs

Monday, August 16, 2004

Fragmentos de um Roteiro 3

Outer Space

Things that pop in my head.

A man sings a soul music in the train station.

Astronaut walks the streets. Or rides his bike across the Brooklyn Bridge. (this location must be stolen, by the way). His thoughts:

'I think I dreamed of being an astronaut when I was a kid. I'm not completely sure of that. (all black, then fades in) At least the excuse I used to move here was this dream I needed to chase. I moved to a place where I could fail away from the eyes of the all the people I know. And somehow I felt that the people back in the my hometown would speak of me and remember me looking up to the sky longing for that fading star that would slowly become a myth, or a legend, or just a lie, but a good lie.'

Well, anyway. I'm far, far away from home. Hiding alone among the stars.
This place is as big as the infinite. And quite lonely, I would say.

Dreaming. I'm always dreaming.

I wish I could be more objective. Start, working, get real. More logical, down to earth. I wish I could concentrate on more useful things. I wish I could speak better, and not stuttering. Say intelligent insights and not the pseudo-intellectual crap just to show-off.

I wish I could write everything that I think.

I wish I was different. Better looking. I wish I couild acomplish a little more. Not giving up so easily.

I wish I could write poetry.

I wish I had undying love.

Tuesday, August 10, 2004

Diarios de Bicicleta

Para os que perguntam das novidades eu escrevo lamentando o fato de que nenhuma surpresa ou disturbio, fora os ja rotineiros disturbios emocionais, aconteceu comigo nesses ultimos dias. Na verdade eu ate tenho algumas novidades. Ganhei uma bicicleta, por exemplo. A Lenara Verle, filha do prefeito de Porto Alegre, esteve aqui visitando seu namorado e quando foi embora eu pedi que ela me deixasse a bicicleta para eu cuidar. E ela deixou. Ando com a magrela pra cima e pra baixo. Nos dias que nao da vontade de sair da cama, faco um esforco pra sair e dar umas pedaladas. O que se revela ser um passatempo de muita inspiracao e transpiracao, eh claro.

Saindo de manha do Brooklyn, cruzando pelos cafes da Avenida Bedford, chego rapido na ponte Williamsburg, onde uma subida ingrime manda eu mudar para a marcha mais leve. Mesmo assim chego bufando la em cima. Finalmente o esforco diminui e eu vejo o Lower East Side, e o sul da ilha de Manhattan crescendo magnificos na minha frente emoldurados pela Brooklyn Bridge. Nessa hora eu vejo tudo em preto e branco, esqueco do CD do Moby que pulava no meu disc-man e consigo apenas ouvir Rapsody in Blue do Gerswin esplodindo na minha cabeca (pra quem nao sabe do que eu estou falando, veja Manhattan do Woody Allen). Tiro as maos do guidon e vou e vou so no embalo retomando o folego. Quando a paisagem se esconde atras de uns predios feios, muda para a marcha pesada e desco o outro lado da ponte a milhao desviando de atletas e rabinos que se sodomizam em chapeus e ternos pretos embaixo desse sol de 30 graus. Nos calombos que diminuem a velocidade, eu dou saltinhos que me lembram da pistinha de bici-cross que eu andava em Belem Novo. Saindo da ponte eu ando pelo lower east side em direcao ao East Village. Passo por uma pequena loja de discos onde toca uma versao careta, eu diria ate desafinada, de 'Desafinado'. Subindo a Houston passo por um jardim cheio de florzinhas amarelas que caiam no chao. Ali, velinhos japoneses praticam Tai-Chi. E eu penso "... se o Kurosawa visse isso..."
Passou-se 40 minutos e eu estou na doze com a sexta avenida. Amarro a magrela na grade da escada de um predio e entro num cafe pra comer uma bagel. Dali eu venho ape ate a New School, onde eu posso ler os meus emails e escrever bobagens para os amigos. E e isso.
O dia continua maravilhoso la fora. Vou sair pra dar uma banda.

Marcello

Monday, August 09, 2004

Outer Space

He lies in bed semi awake.
astronaut. (off):
Monday. Monday is my day off. Perhaps I should be using this time on a positive manner. Go to the beach, see a museum, enjoy life, do some writing, look for another job - God, I hate my job.
(a busboy serves water very slowly in a tall glass) Somedays I wake up and it's so hard to get out of bed. And I hardly had any sleep last night too. That little display on my stereo would lit the whole room in green. I'm so tired. So hungry. I guess I'll have to get out of bed afterall - there's no food in these apartment. (We hear the little music of the ice-cream truck driving by). If Mr. Softe's drive by one more time I'll shoot myself in the head. What am I saying? I could never do such a thing. I don't even have a gun. I have to get up before I go insane. (checks he's phone). Shit. It's already noon.

Wednesday, July 28, 2004

Inspiration
 
Lou Reed's Dreamin' - Escape
 
If I close my eyes I see your faceand I'm not without youIf I try hard and concentrateI can still hear you speakI picture myself in your room by the chairyou're smoking a cigaretteIf I close my eyes I can see your faceyou're saying, "I missed you"Dreamin', I'm always dreamin'If I close my eyes I can smell your perfumeyou look and say, "Hi baby"If I close my eyes pictures from Chinastill hang from the wallI hear the dog bark I turn and say"What were you saying?"I picture you in the red chairinside the pale roomDreamin', I'm always dreamin'You sat in your chair with a tube in your armyou were so skinnyYou were still making jokesI don't know what drugs they had you onYou said, "I guess this is not the timefor long term investments"You were always laughingbut you never laughing at meThey say in the end the pain was so badthat you were screamingNow you were no saint but you deservedbetter than thatFrom the corner I watched them removing thingsfrom your apartmentBut I can picture you red chair and pale roominside my headIf I close my eyes I see your faceand I'm not without youIf I try hard and concentrate I can hear your voice saying"Who better than you"If I close my eyes I can't believe thatI'm here without youInside your pale room your empty red chairand my headDreamin', I'm always dreamin'Dreamin', I'm always dreamin'Dreamin', I'm always dreamin'
Fragmentos de um roteiro 1
 
Outer Space

We see a man sitting on a Brooklyn rooftop. He wears a T-Shirt that reads 'Alter Ego'. He speaks to the camera. We don't know his name, we only know him as The Astronaut. As he tells his little story, we see him blindfolded in the middle of times square, or dressed as an astronaut walking the streets of New York.


The Astronaut:
I heard of this experiment done with astronauts. Actually it wasn't an experiment, it was part of their training. They'd take a guy blindfolded into the middle of this maze, right? And they would spin this guy around a few times and kill all the lights. And the poor guy would have to find his way out in the dark. And eventually, most of them would come out, because human beings have this natural sense of direction - something to do with the magnetism of the earth, or something like that. Anyway, these guys, the ones that would find their way out would be the ones that would get sicker in space. So they got discarded. And the ones picked to be in the missions and fly those magnificent aircrafts, are the ones that would remain lost in the middle of the maze.
Funny thing. This is some story that I never seemed to forget. Maybe I keep it in the back of my mind, telling myself that I'm on a space mission, or something. 'Cause, you know, sometimes I just walk out of the subway and I have no idea where is north, or south; and I have to walk some blocks reading the name of the streets - and thank god most of them are named with numbers. This maze.
 
FADE TO BLACK:

FILM CREDITS:        OUTER SPACE 
FADE IN:
 
EXT - CONEY ISLAND - DAY
 
(TO BE CONTINUED...)

Wednesday, July 14, 2004

Manhattan Conections

Bom. A noite em Nova Iorque funciona assim. Tem muitos Clubs onde rola a maior mulherada. Lugares onde a fauna presente eh a mais selecionada do mundo. Soh tem um problema - tu tem que ser um desses selecionados, se nao tu paga. Na maioria dos clubs, boates, etc, a cena eh a mesma. Uma fila na porta, dois gorilas e algum pe-rapado abusando de seu poder seletivo - homem nao entra sozinho. E em alguns lugares soh entra como convidado e nao tem chorumela. Passando a porta, pra quem conseguir, paga-se em media de 15 a 30 dolares, dependendo do lugar, morto. Soh pra poder pisar la dentro. Lah dentro tudo tambem custa outra nota. Se tu quiseres uma mesa com uma garrafa de wisky, por exemplo, sai em torno de trezentos dolares. Ou fica-se bebericando no bar a noite inteira, mas a mulherada gosta eh de uem baixa trago nas mesas, nao tem conversa. De qualquer forma, pra uma noite bacaninha, eh bom estar preparado espiritualmente pra gastar no mínimo uns 60 dolares. Mas eh tudo uma questao de conhecer as pessoas certas - com uns bons canais tudo fica mais facil. Ateh em Porto Alegre eh assim.

Mas isso tudo eh uma introducao da historinha que eu vou comecar a contar agora.

Terca-feira, combinei de fazer uma historia com a Cris Cavalcanti e sua turma. Ela queria me apresentar um suico que ela tinha namorado por muito tempo e que estava com uma produtora em Genebra, fazendo uns trabalhos no Brasil e porque nao Nova Iorque. Como a Cris tinha um casting, fui direto me encontrar com o cara na Union Square Coffee Shop. Junto do Luzzos, que era o suico, estava o Roger Rodrigues, um gaucho que morou dez anos em Sao Paulo onde trabalhava como assistente de direcao (que nem eu). Ficamos os tres conversando enquanto esperavamos a Cris sentados em uma mesinha na rua curtindo aquela atmosfera viva e pulsante que eh a Union Square/University Place. Em poucos minutos ja sabiamos quem conhecia quem, quem tinha trabalhado aonde, com quais diretores, em que produtoras etc. Quando a Cris chegou, sentamos no gramado da Union Square e ficamos de papo-furado por mais uma meia hora. Comecamos a combinar pra sair. O Roger estava meio cabreiro, pois sua esposa estava viajando e ele andava saindo muito sozinho. O que que tem? - Pensei. Mas o cara continuava numas de vamos ver. "Eu vou ligar pra ela e sentir o clima, se eu achar que rola eu vou junto". "Que cara mais Paraiba" - pensei comigo mesmo. A Cris iria pra casa pois ia acordar cedo, eu tava pronto pra balada, apesar de nao ser nem 6 da tarde e o sol nao baixa antes das 8. O suico, que falava um portugues perfeito com sotaque do Rio, Tava nas pilhas de sair, faltava convencer o Roger, que descobriu que havia perdido a sua chave. Procuramos a chave pela grama, no Coffee Shop e nada. Nos despedimos da Cris e fomos caminhando ate a casa do Roger onde ele pediria para o zelador abrir a porta e veria se nao tinha esquecido a chave em casa. No caminho fomos conversando sobre a noite novaiorquina, mulherada, Brasil, putaria, cinema e mais mulherada. Aquele saudavel papo de homem, que no fundo no fundo quer dizer - quem arrota mais alto, quem come mais mulher, quem tem o pau maior. Mas enfim. O Roger comecou a contar de um aniversario que ele organizou pra mulher dele, e a mulherada que foi "eu achei que tinha morrido e tava no ceu" falou o cara. Eu suspirava com a lembranca de algumas gauchas que eu precisava ver naquela noite.
Quando chegamos ao ape do cara, ele nos ofereceu uma cerveja. Optei por uma agua - ainda era cedo. Enquanto ele procurava a chave, ligou o computador pra botar um som. Nos chamou proximo ao laptop e mostrou as fotos do aniversario de sua esposa. A imagem me pareceu familiar. Daniela Sarahyba, Ana Hickmann, e mais todo um time fortissimo. A esposa do cara era uma top-model das mais fodonas. "Tao afim de ver a Ana Beatriz Barros bebada mostrando os peitinhos?". Nao precisava resposta. Mais uns cliques e viamos ela toda pingucinha, coisa mais querida, com meia tetinha saindo pra fora do vestido. O que me vem a lembrar de um ditado portugues que eu ouvi ontem "Deem-me bebadas, que puta as faco eu". Ou coisa parecida. O que ficava na minha cabeca naquela hora era porque que eu nao estava ali naquela festa aquela hora? Continuei eu olhando o resto das fotos. As viagens do casal, os trabalhos, Ana Hickmann lavando louca na cozinha que estava atras de mim, "isso eh minha mulher sendo fotografada para a Sports Illustrated", o Joao Paulo Diniz com seus filhos. Joao Paulo Diniz? "Eh meu melhor amigo" respondeu o rapaz. A namorada do Diniz que morreu afogada era a melhor amiga da mulher do Roger. "Acho que eu encontrei a minha turma" - pensei mais uma vez. A chave nao tava lah, definitivamente. No final das contas estava no hotel do suico. Mas enquanto ainda estavamos na casa do Roger, ele nos perguntou onde queriamos sair, "na Marquee ou na PM?" que sao as boates mais fodas de Nova Iorque hoje. "Qual eh a melhor?" perguntei. "As duas sao boas, mas acho que a Marquee vai estar melhor hoje". Entao o cara ligou para os promoters das duas casas e arranjou para que nos entrassemos de graca e sem fila nas duas. Decidimos em ir somente na Marquee, e deixar a PM para uma outra noite. O Roger achava que deveriamos ir nas duas. Porem eu e o Luzzos achamos melhor nos concentrar em uma unica balada.

Enquanto escrevo esse relato, recebo um telefonema do Roger perguntando como havia sido a noite. Ele me disse que a festa na PM, da qual eu nao fui, era da Giselle Bundchen. Fazer o que?

Mas entao. Acabou que depois de levar o Suico pra comer um sushi barato (que acabou saindo caro, pois os putos abusaram); e um esquenta no McSorley's, que eh o bar mais antigo de Nova Iorque, tem 150 anos somente; fomos para o Marquee. O Roger foi pra casa - com uma mulher daquelas eu tambem nao me arriscaria ser pego fubanguendo por uma boate na terca-feira. Em frente a Marquee, demos uma ligada para o promoter, mas tivemos que esperar o cara chegar - ele tava numa festa na PM. Quando ele chegou, deixamos pra tras toda uma fila de homens e mulheres e ganhamos uma pulserinha para a ala VIP onde sentamos numa mesa com Vodka Turi liberada ao lado do rapper Jay-Z. Aquele que namora a Beyonce e canta "Can I get a hoo-hoo". Foi divertido - apesar de eu nao ter comido a Giselle Bundchen.
O que me faz concluir algumas coisas.

1 - Se voce vive como um fudido pe-rapado, voce eh um fudido pe-rapado.
2 - Se eu continuar vivendo como um fudido pe-rapado, eu vou ser isso pra sempre.
3 - Eu nao posso desperdicar meu verao trancado numa adega de vinhos portugueses. Preciso arrumar um outro trampo.
4 - Nunca concentre suas forcas numa unica balada. Voce pode perder a oportunidade de comer a Giselle Bundchen. Ou de dar umas porradas no Leonardo DiCaprio.
5 - Eh melhor o Karate. Do que nao te. (haha isso eu tirei de um velho fanzine que era publicado na Famecos).

Um grande Beijo
Marcello Lima

Nova Iorque 8 de julho de 2004.

Sunday, June 06, 2004

Ola amigos,
Agora sao precisamente 4:20 da manha no horario de Nova Iorque, o que
significa que no Brazil sao 5:20 e a maioria de voces deve estar ou dormindo
ou chegando em casa da balada. Como eu sofro de um grave caso de
insonia e nao consigo dormir nenhuma noite antes das 5 (um valium, por
favor), resolvi sentar no computador e escrever sobre algo que realmente me
emocionou esta noite.
As usual, estava eu lah no meu bar, fazendo os meus drinks, lavando tacas
de martini que voltavam das mesas, tentando deixar o bar limpo e
apresentavel, quando senta-se a minha frente um senhor de oculos, que
imaginei estar em seus 40 , 40 e poucos anos, nada estravagante, um tipo
casual, com sua jaqueta jeans preta e uma camiseta basica. Ele pediu o
menu dos vinhos do porto e ficou lendo e analisando-o por um longo tempo.
Nesse meio tempo terminei de atender umas outras duas senhoras que
estavam na outra ponta do balcao comendo sobremesa e despachei umas
bebidas para o garcon que esperava proximo ao caixa.
Voltei para o sujeito ainda indeciso e perguntei o que ele queria. Antes dele
formular um pedido eu o interrompi. Eu sabia que eu conhecia a cara dele de
algum lugar. E aos poucos foi caindo a ficha. Perguntei pra ele:
- You're a musician, right? (Voce eh musico, nao eh?)
- Yeah. Respondeu ele monossilabico.
- You Play in a band. (voce toca numa banda) continuei.
-Yes, I have a band.
- Violent Femmes, isn't it?
O sujeito arregalou os olhos. Era ele mesmo. Gordon Gano, vocalista do
Violent Femmes, uma das minhas bandas preferidas. Ele estava surpreso,
nunca ninguem reconhecia ele. Ok, ele nao eh o Mick Jagger, mas eh o cara
que canta Blister in The Sun, e muitas outras. Comecamos a bater um papo.
Ele pediu uma taca de Quinta do Noval 10 anos, procurei entre os 50 portos
que a gente tem no bar e nao achei, ofereci um Taylor Fladgate 10 anos, que
custava 19 dolares o copo, mas apenas cobrei nove como se fosse o Quinta
do Noval. E continuamos. Bla, bla, bla, bla. Ele me convidou para ir ao show
deles no dia seguinte. 'I can't' respondi - sabado eh o dia mais movimentado,
e eu preciso da grana. Que pena, eu seria convidado do Gordon. Mas pude
descobrir muitas outras coisas. O que ele anda ouvindo, por exemplo -
Debussy, Mozart e Adam Green. E ainda falou sobre um DVD com uma
compilacao dos videos da banda e sobre sua admiracao por Fernado
Pessoa e o Fado Portugues. Legal. O cara foi ateh legal o suficiente pra ouvir
a minha historia. Ao final da noite ele me deu o telefone dele e disse pra
gente ficar em contato. Ainda prometeu passar numa quarta feira pra ver o
fado e tomar a minha caipirinha que eu tao humildimentee digo que eh a
melhor em Nova Iorque.
Ao sair do trabalho, liguei pra minha minha prima Cris e fui encontra-la num
bar em Alphabet City. No meio do caminho cheguei a cantar em voz alta.

Do you like amercan music
I like american music
don't you like american music baby
I want you to hold me
I want your arms around me
I want you to hold me baby...

Soh o que eu pude pensar foi: meu filme do segundo semestre vai ter uma
trilha feita pelo Gordon Gano.

O plano abre e estou caminhando na oitava avenida. A trilha sobe e rolam os creditos sobre a imagem.

Marcello Lima, Brooklyn, NY - 5:00AM - 06/05/04

Wednesday, May 26, 2004

As vezes tu acorda em um dia vazio. E tu passa o resto do dia tentando preencher o tempo com qualquer coisa que seja. E eh uma sensacao desagradavel quando se tem um dia inteiro pra preencher e nada de realmente agradavel ou util aparece pela frente. Que agonia. Ontem eu tava num dia desses. Ontem foi um dia semi nulo. Se o dia de ontem nao acontecesse nao faria a menor diferenca. Mas faz diferenca no sentido em que ontem eu tive um dia inteiro pra matar um dia.

Acordar na ressaca. Levar as roupas na lavanderia. Ai comeca realmente a matacao de tempo. O que fazer enquanto as roupas estao lavando? Comer. O que fazer enquanto a comida nao fica pronta? Nada. Pega um jornal em espanhol que esta do seu lado e tenta ler. Mas eu nao consigo ler. Minha cabeca ja esta em outro lugar. Agonizando em pensamentos que a esta hora ja foram empurrados pra algum canto obscuro do cerebro. Mato vorazmente uma cocaa-cola em alguns poucos minutos. Devoro o Gyro sem ao menos sentir o sabor. Mas consigo sentir o estufamento no meu esofago.

O que fazer a seguir? Voltar pra lavanderia. Olhar para as roupas girando na secadora de roupas. 32 minutos. Nao da pra ficar sentado. Minhas pernas ainda estao cansadas da noite passada. Mas vou caminhar. Sair ate a calcada e fazer festinha no cachorro amarrado no poste. Voltar pra dentro da lavanderia. As roupas continuam girando. Voltar a brincar com o cachorro. Ligar para o Brazil? E falar o que? Tudo bem? Claro. Nem pensar. Pego minhas roupas e volto pra casa. Dobra-las e guarda-las? Nem pensar. Eh melhor deixar tudo atirado em cima da cama mesmo. Abrir revistas, o jornal de ontem. Nao tenho saco pra ler. Abrir os emails. Nada. Vou no cinema. Aventuras? Comedias? Nao. Quero me emocionar. Quero algo que nao seja tao vazio. O novo filme do Jim Jarmush? Nao, nao to afim de dormir. Nao quero ter que prestar muito atencao. Tem um filme frances. Eh nesse que eu vou. So comeca as 5:35, ainda tem uma hora. E melhor eu ir saindo. Dois trens. Da tempo de pensar bem o caminho. Ok. Cheguei no cinema. Vou levar um twix ee um mountain dew escondidos no bolso. Vou me afundar na cadeira. Espero que o filme me faca chorar. Comi o chocolate muito rapido. O filme acabou duas horas depois do chocolate. Nao chorei. Nao gostei do filme, pra falar a verdade. E agora? Tem todo o resto do dia pela frente. Vou caminhar.

Caminhar, caminhar, caminhar. Olhar as mulheres que circulam pelo East Village, olhar camisetas de bandas na Saint Marks. Continuar caminhando. Vou ate a Universidade abrir os meus emails. Ta fechado a essa hora. Os putos estao de ferias. Fazer o que? Tirar 40 dolares no caixa do Citi bank caso eu queira fazer outra coisa. Vou caminhar. Comer. Nao tenho la tanta fome, mas eh uma maneira de me saciar. Taco Bell. Nem vi direito que comida era, pedi o numero 6. Espero que seja bom. As primeiras dentadas revelam que eu estava realmente com fome. Ou isso, ou o numero 6 eh realmente bom. Nao sei dizer mais a esse ponto. O cara ddo caixa do Pizza Hut express, que fica dentro do Taco Bell, fica me encarando por um longo minuto. Eh o cara mais feio que ja vi na minha vida. Uma caricatura ambulante. Para de me olhar! Para de me olhar! Virou a cara. Vou mijar no Wendy's porque o banheiro do Taco Bell estava interditado. O banheiro do Wendy's fedia a asa e tinha sangue de alguma porca que menstruou por cima da tampa do vaso e nao teve a decencia de limpar. Levando a tampa com o pe e mijo trancando a respiracao. Puxo a descarga com o pe e saio correndo. Caminho ate a Union Square. La tem uma banda de Rap com rock/metal fazendo um set acustico e pedindo uns dolares. Eles sao realmente muito bons. Foi a melhor parte do meu dia ate agora. Compro o CD deles por 5 dolares. Vou propor de fazer o video deles. Eles param para um intervalo. Vou ate a Barnes & Nobles ver uns livros. A loja vai fechar em meia hora. Algumas coisas me interessam, mas qualquer coisa que eu fosse comprar seria um desperdicio de dinheiro. Eu iria encher o saco em 5 minutos, do jeito que eu ando. Queria poder conhecer alguma mulher em uma livraria, isso salvaria o meu dia. Fico em pe fingindo ler um livro ao lado de uma loira alta. Que patetico. A mulher foi embora. Vou esperar mais um pouco pra ela nao achar que estou seguin do ela. Ridiculo. Acho melhor eu ir embora mesmo. Vou pra casa. Chego em casa. Dormir? Nem pensar. Vou ver umas putarias na internet. 3 da manha. Melhor eu ir dormir.

Tuesday, May 18, 2004

RIp-Off

Pra quem nao sabe, a traducao do termo pode ser toscamente interpretada como copia, ou chupacao, imitacao, whatever. Bom, ontem eu fui ver o novo filme do Tolni Scott, diretor de filmes como Top Gun, Dias de Trovao, Spy Games, etc e irmao do Ridley Scott (Blade Runner, Gladiador, Thelma e Louise). Mas esse filme que eu fui ver se chama Man on Fire, e eh um total rip-off estetico de Cidade de Deus. E nao estou exagerando nao. O filme que eh estrelado pelo otimo Denzel Washington, traz ainda no elenco dois brasileiros que estavam no elenco de Cidade de Deus. Um eh aquele maneh que fazia o Paraiba, que casa com o Rodrigo Santoro em Carandiru, o outro eh o que fazia o Libanes em Cidade de Deus, tambem conhecido como o Genio do antigo comercial do Guarana Antartica. Mas anyway, os dois fazem papeis de viloes no filme, o libanez apanha tanto do Denzel Washington que fica com a boca torta falando um ingles literalmente meia-boca, que eh dublado nos planos mais abertos. Ja o Paraiba parece ter aprendido umas boas licoes com Rodrigo Santoro, nao fala uma palavra, soh geme chora e grita. Mas no mais as cameras copiam tantos planos e ideias de CDD que chega a ser constragedor (sem falar do roteiro que eh extremamente constarngedor). Tem uma cena que se passa numa Rave que imita a cena do baile black do Cidade de Deus descaradamente, tem ateh o Denzel Washington dando tiros pra cima pra espantar a massa, exatamente como o Ze Pequeno fez. Tem cenas em favelas do Mexico e em algumas cenas de acao ateh uma bateria de escola de samba toca pra chupar a trilha de Ed Cortez e Antonio Pinto. Fora isso tem tem tanto flash-frame no filme que chega a ser ridiculo - os menos desavisados podem pensar que os caras filmaram com uma camera ruim. O filme ainda abusa da malandragem em letreiros que se sobrepoem a tela pra traduzir os dialogos em espanhol e as vezes frizar algumas palavras chaves como "I want your life", a imagem congela, as letrinhas dancam na tela - coisa mais imbecil. Um trailer de duas horas de duracao. Do inicio ao fim eh essa palhacada. A boa noticia eh que eles deixaram umas luzinhas acesas que ficavam bem em cima da minha cabeca. Me incomodou. Ao final da sessao fui reclamar e ganhei um ingresso de graca. Acho que hoje eu vou ver Van Helsin, ou Hell Boy, ou talvez Eternal Sunshine of the Spotless Mind mais uma vez.
Mas no mais deixo seguinte recado para o Toni Scott:
tsc-tsc...

Friday, May 14, 2004

Se fosse um pao duro do caralho eu acho que eu ja estaria rico por essas alturas. Mas nao dah. Nao ha como viver sem torrar metade do teu dinheiro com trago e mulher. Eh como dizia aquela velha piada de porta de banheiro. "Metade da minha fortuna eu gastei em mulher e bebida, a outra eu disperdicei". Mas enfim, essa breve introducao eh soh um pequeno comentario sobre o relato que farei da noite anterior.
Quando deixei o restaurante ontem era meia-noite, ou quase lah. Eu e o Sergio, que eh um garcon paulista que trabalha comigo, pegamos um Taxi ateh um lugar chamado Don Hill (assim mesmo) na Greenwich St. com a Spring, onde encontrariamos a minha amiga Silvia. O taxi foi 5 dolares. Na porta levamos a primeira facada - 20 dolares morto pra entrar. A Silvia tinha me dito que deveria custar uns 5. Mas tudo bem, agora que ja estava lah, que se foda, nao eh mesmo? Era uma festinha anos 80 e o lugar, apesar de nao estar muito cheio, tinha umas gatinhas para o deleite dos meus olhos, o que jah faz valer metade do dinheiro investido. Como o Sergio havia pagado o taxi, eu paguei as primeiras cevas. Duas Red Stripes (cerveja jamaicana, otima) 13 dolares. Juntamos nossos trocos e mais duas red stripes, o dinheiro ja havia ido embora. Abri uma conta no meu cartao de credito, e de-lhe ceva. Ja haviamos trocado para a Rolling Rock, que eh uma cerveja mais barata e mais vagabunda, mas que servia ao seu proposito. Mais 35 dolares. Taxi ateh o East Village, que eu fui de carona com a Silvia e sua amiga Grega. Uma pizza pros borrachos as 3 da manha, mais 3 dolares. Alguem estah fazendo as contas? Caminhei ateh a 14 onde para pegar o Subway para o Brooklyn, mas antes parei num barzinho pra dar uma mijada. Ao chegar na parada do metro, me sentei no banco e o mundo rodava (eu nao, havia tomado somente cerveja, ha detalhes que estou omitindo). Resolvi me deitar no banco. Dei uma cochilada, mas podia perceber que algumas pessoas chegavam e ficam incomodadas pois tinha um pinguco deitado no banco aonde eles queriam sentar. De vez em quando abria um olho pra ver se o trem se aproximava. A porra do trem soh chegou as 4:06 da manha. No trem dei mais uma cochilada e acordei por milagre quando chegava na minha parada de destino - Montrose Ave. Acordei ao meio-dia de ressaca. Vim pra Manhattan, comi um xisburguer porco do Wendy's e cah estou com uma pitadinha de dor de cabeca. Mas acho que no final das contas nao me arrependo dos 70 dolares gastos durante a noite. Ainda bem que eu ganho em dolares, se nao tava fudido. Alias, acho que eu to fudido de qualquer jeito, meu cartao de credito vai sair uma nota esse mes, e a conta do celular... Eh bom nem pensar.

Thursday, May 13, 2004

Coisas que acontecem

Buenas,
Nada de novo realmente acontece. Isso, por si soh ja se poderia dizer que eh algo novo. Com o fim das minhas aulas nada de fato vai mudar na minha vida a nao ser pelo fato de que eu vou ter mais algumas horas livres nas tercas-feiras. Eu continuo tendo um filme pra finalizar, continuo trabalhando quase todos os dias atras de um Bar. O Harvey Keitel passou la de novo. Porem como um leegitimo New Yorker que estou essas coisas nao mee impressionam mais. Ja cruzei pela Juliane Moore 3 vezes eu ja quase estou dando bom dia pra ela. Mas no mais a unica coisa que acontece eh uma calmaria de fatos, nada de surpreendente. Vi o Kill Bill 2, apresentei o meu filme pra aula e soh. Tirando o meu dinheirinho, gastando. mmm. Naao sei nem mais o que escrever.
Que chatisse.

Wednesday, May 05, 2004

Pra quem acha que a vida aqui eh facil, algumas informacoes:

1 - em tres meses morando aqui eu ja paguei mais de 750 dolares em impostos (descontados do meu paycheck).

2 - Como nao sou Americano eh quase certo que eu nunca vou ver um centavo dessa grana de volta no Tax return.

3 - Pra fazer uma transferencia de dinheiro para o Brasil eu nao posso usar o metodo mais barato. Internet. Porque no site do Citibank nao tem Brazil (tem Brunei, bahamas, bolivia,...). Entao tive que ir ate a agencia e fazer uma transferencia pagando a modica taxa de 40 dolares. Isso tudo pra pagar o meu cartao no Brasil e tirar minha conta do Bradesco do vermelho.

A boa noticia eh que aqui tem dinheiro e uma hora ele pode vir parar na minha mao.

Wednesday, April 28, 2004

Atencao New York Bastards!

Hoje (qurta-feira dia 28 de Abril) tem a New York Premiere de The Man Who Copied (fala serio!). Falei com a Luli (Luciana Tomasi, produtora executiva) na segunda-feira e ela vai estar apresentando o Homem que Copiava no Quad Cinema, que fica na 13th St. entre a quinta e a sexta ave. as 7:10 PM. Depois a bagaca segue no Nell's (14th St. entre &th e 8th Ave.) onde tera uma festinha.

See ya!

Saturday, April 24, 2004

Dark Water

Domingo passado tava um pouco devagar no restaurante, e apesar do pouco dinheiro que se ganha nessas noites, eu prefiro trabalhar assim. Com o clima mais tranquilo da pra conversar com as pessoas que sentam no bar e os drinks por alguma incrivel razao saem melhores (eh porque eu nao erro as doses). Pois nesse domingo, um casal sentou ao bar e comecaram a conversar enquanto tomavam dois calices de Vinha do Monte - Alentejo. Em principio nao prestei muito atencao no que eles falavam, mas de vez em quando algumas palavras como 'stage', 'set' e 'shoot' estalavam no meu ouvido. Resolvi perguntar pra eles se eles trabalhavam com televisao. Me responderam que trabalhavam com cinema. A conversa ficou bem melhor. Disse pra eles que eu estudava cinema e que tava querendo ser diretor e roteirista e tudo mais e que eu era do Brasil. Que coincidencia. O cara tava trabalhando em um filme da Disney dirigido por um brasileiro. "Who?" Perguntei. 'Walter Salles' respondeu o cara. Nao sei se minha cara iluminou ou coisa parecida, mas soh sei que ele me faalou pra ligar pra ele pra ir visitar o set. O cara se chamava Nick e era diretor de arte do filme. Eu tava impressionado.
Quarta feira liguei pro Nick. Ele me disse que nao poderia me levar no set porque era aultima semana de filmagem e que o pessoal ficaria um pouco de cara se ele aparecesse com um visitante. Mas me falou pra eu passar no departamento de arte e conhecer o trabalho dele e da Therese. Therese era a Production Designer, que no brasil eh conhecido como o o diretor de arte (o Art Director aqui eh como um diretor de producao/supervisor do departamento de arte, enquanto que o desenhista de producao eh a cabeca criativa do processo). Nick e Therese ja foram responsaveis pela arte de varios filmes conhecidos como Alta Fidelidade (do Stephen Frears) e O Verao de Sam (do Spike Lee).
O filme que o Walter Salles ta dirigindo se chama Dark Water e eh um remake de um suspense japones de mesmo nome que a Buena Vista, que eh um braco da Disney, tah bancando. A Jennifer Conelly eh a atriz principal. O Departamento de arte era todo um andar de um predio em midtown. E tinha paredes cheias de fotos de referencia, desenhos, plantas e outros papeis. Nick me mostrou as fotos do cenario que eles montaram no Canada, onde tinham filmado a maior parte do filme. O cenario era uma estupidez - o interior de um predio 'pre-war' de Nova Iorque INTEIRO levantado dentro de um estudio. Tinha corredores, elevador, apartamentos, lavanderia, telhado com a replica de um tanque de agua imenso e um pano gigante com uma foto de Nova Iorque vista de Roosvelt Island (onde se passa a historia). Depois dessa tour Nick me disse. Porque tu nao simplesmente aparece no set? Talvez eu desse sorte e eles me deixassem ficar por lah. Ok, falei. Vou fazer isso.
Quinta feira de manha eu ja estava la em Roosvelt Island. Assim que comeco a ver os primeiros caminhoes, avisto de cara o Walter Salles. Chego pra ele na maior cara dura e falo. "Walter Salles, tudo bom?". "Tudo bom" responde ele "brasileiro?" E ai comecei a usar dos meus truques sujos. "Tu conhece o meu pai. Ele fez um churrasco pra ti uma vez". E ele lembrava. "Nao soh fez um churrasco, como fez um otimo churrasco." O churrasco do pai eh foda."Tu mora aqui?" perguntou ele. "To estudando cinema" falei e ja engatei contando toda a historia de que tinha conhecido o diretor de arte no restaurante onde eu trabalhava e que conheci a Therese e todo o departamento de arte. Ele falou do inverno em Toronto, da producao, Disney e toda historia. Eu falei que tinha feito um curta com o Fernando Alves Pinto, que tinha trabalhado na Zeppelin e logo logo nos ja eramos duas cumadres. Me pediu licensa porque tavam chamando ele e disse "Vai ficar por ai?" ."Posso?" perguntei. "Claro. Fica por ai, se quiser comer alguma coisa..." Achei melhor nao abusar.
Fui caminhando pelo set. Quando cheguei proximo aos monitores e das cadeirinhas de diretor, pude ler Affonso Beato A.S.C, A.B.C. Pra quem nao sabe, Affonso Beato eh um grande diretor de fotografia brasileiro que ja trabalhou com o Glauber Rocha, o Pedro Almodovar, entre outros. Perambulei mais um pouco e encontrei o ele. "Affonso, tudo bom?" Ele foi super simpatico, me tratou como se me conhcesse. "Acho que tu nao deves lembrar de mim mas eu te conheci no Festival de Brasilia, sou amigo do Feijao (diretor de fotografia de 'O Baile Perfumado' e amigo de longa data do Affonso Beato e parceiro meu de festa no dito festival)". "Claro, agora eh que caiu a ficha" . "Yaeh, right" pensei. Ele me falou que tava esperando pra ver se nublava, e trocou mais alguma ideia sobre cinema comigo. Eu tava em casa. Apos essa breve introducao, me recolhi ao meu canto e tentei ficar invisivel. Mas a equipe inteira ja tinha visto que eu era cupinhcha dos dos diretores. Logo depois chegou a Jennifer Conelly, que, ca entre nos, nao eh tudo aquilo, e eles comecaram a funcao. Duas cameras Panavision, uma num dolly fazia o close enquanto outra no stedy-cam fazia o plano aberto. Eles ensaiaram umas cinco ou seis vezes e pararam pra aumocar. Ja tinha visto o suficiente. Fui me dispedir do Walter e ele me deu um abraco como se fosse um amigo de familia (e de alguma forma somos todos, nao?). Desejei boa sorte e perguntei quando estreava o novo filme dele Diarios de Motocicleta. Em maio no Brasil e em outubro aqui nos EUA, era a resposta e ele completou com "Esse eu quero que tu vejas" com orgulho de quem fez o filme que queria. Quanto a Dark Water ele imaginaava que em dezembro nos EUA mas nunca se sabe. Tem estrategias de lancamento, teste com audiencia. Disney, sabe como eh?

Peguei o trem, bem faceiro de volta pra Manhattan. A duas quadras do Alfama vi um outro set, soh que bem menor, era o fotografo Terry Richardson fazendo uma campanha para um jeans italiano. Ai nova iorque. E o verao tah pra chegar.

abracos

Macello Lima

Monday, April 19, 2004

Faz de conta que ninguem entende ingles - portanto ninguem vai saber o que tah escrito aqui. Ok? Entao estamos falados. La vai:

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Letter #2

New York, April 12th 2004.


Dear Mrs. Bray,

By now you might have noticed that music is a big part of my life. Like, when I see a pack of Parliaments, I begin to listen George Clinton and the The Parliament Funcadhelic playing Atomic Dog in my head. And Saturday, as I was going home I had another tune in my head. One that kind of spooked me. I was walking home humming and singing The Killing Moon, by Echo and The Bunnymen. That's the opening theme from that Donnie Darko movie we were watching. Well, what spooked me was that I don't know much of the lyrics so I was humming most parts of it, but the chorus part I know, and it goes like "Fate (right then I remembered your tattoo) up against your will, through the thick and thin, you will wait until, you give yourself to him." And I remembered then. That when I was sleeping with you... Wait.

Let's pause for a second. First let me say that I loved spooning (I don't know if I'm using the expression in the correct way) with you all night long. That really felt, extremely good. Just laying there holding you. It was amazing. And in the morning when we were waking up, and, you know. It was really, really great. And I specially liked when we were like, you in jeans, no shirt on, me getting dressed, laughing that was very cool.

But going back to when I was sleeping with you, I remembered that I had this nightmare that I was trying to go in some place and Donnie Darko, wouldn't let me go in. And Donnie was this short little guy, but he was a mean bastard, trying to hit me with his forehead. And I was like throwing punches on him, "like get off of me, asshole!" and I suddenly woke up because I thought I was jummping in bed, and I even thought that I had waken you up. But you were still sleeping, so I held a little more. It was already in the morning because there was light coming in the room and I wanted to fall asleep again so I could go back in my dream and kick donnie's ass. But I never when back to that dream again.

So anyway. The following night was kinda cool because I served a drink to Mr. Harvey Keitel, and made some ok tips and stuff. So wanted to tell you that and wish you happy Easter and all. But your phone was off. So I left you a message, because I also wanted to give you something that I think you would like. And the I called you again last night but you didn't answer the phone. Bitch. (just kidding, I AM KIDDING, I do not think that you have anything related to dogs except being cute). Well, so I wnet home to sleep.

So this morning I woke up and I had this music playing in my head. And I was humming this all morning long.

"I have stood here before inside the pouring rain
With the world turning circles running 'round my brain
I guess I'm always hoping that you'll end this reign
But it's my destiny to be the king of pain"

Isn't this depressive? Doesn't it want to go like "Oh, you poor thing. Come to Greenpoint and I will spoon with you all night long again". Doesn't it make you want call me right the way?

I never had this Police song in my head before. It's all because of you. I listend to this song the two times we were together.

So. My dear Meredith. Appear.

Yours honestly,

Marcello Lima

Friday, April 16, 2004

Notas Sobre Ontem A Noite

Well,
Sao 2:32 da manha. Eu resolvi descer uma parada antes da habitual. Nao precisa dizer que eu estou completamente bebado. Um resumo da noite: Passei na minha prima Cris, onde fiz uma caipirinha reforcada com Ypioca, fomos para o The Hole, onde se pagava dez dolares na entrada e se bebia o quanto podia. Trago a vontade. Depois fomos para o LIT. Mais trago. E finalmente me encontro no meu local favorito para uma Larica de fim-de-noite do Brooklyn. Se chama Sabur Mexicano e fica aberto a noite toda na Grand St. quase esquina com a Graham Ave. Pedi um Gyro (to go). To morrendo de fome. E bebado. Essa porra tah demorando. Resolvi tirar da minha mochila o meu 'idea book', que nada mais eh do que um caderninho de anotacoes, onde eu despejo os meus lameentos a respeito das injusticas da ardua vida novaiorquina. Como por exemplo, ATM cash machines. Cobram U$ 1,50 toda vez qquee tu vai tirar 20 mangos para nao passar fome. E aproveitando que comecei a chorar as minhas pitangas...Fuck you bush. Com sua guerrinha de merda que leva 110% do dinheiro que eu ganho em impostos. E alem disso essa cidade eh so muthufickin expensive!. Mas pelo menos tem suas coisas boas. Nicole Kidman, por exemplo. Hoje, quando eu caminhava pelo East Village, viajando nos sinais e placas de rua, passando por um cinema e me deslumbrando 'po, City of God ainda em Cartaz, que legal...' e seguindo mais uns passos comecei a ver caminhoes e mais caminhoes. Era a producao do novo filme do Sidney Pollack, The Interpreters, com Nicole Kidman e Sean Penn no elenco. Parei na esquina da 7th St. com a 3rd Ave. e vi a Nicole rodando uma cena. Meu amor... Depois veio o Sideny Pollack, falou com ela, ela ficou por ali mais alguns minutos, ai passou um carro e levou ela embora. -
Caralho! Ja fazem 18 minutos que eu pedi o meu Gyro e ateh agora essa porra nao chegou! Que merda! Ai Nicole Kidman, vem aqui pro Brooklyn, conforta esse coracao carente (a Juju que em desculpe, mas a Nicole Kidman eh a Nicole Kidman). E acreditem amigos, ela eh tudo aquilo que aparece na tela.
Que merda! Porra, cade o meu Gyro! To morrendo de fome, caralho!

...

Estou em casa. Os filhos da puta demoraram mais valeu a pena. Essa porra desse gyro eh divino. Como eh bom. Amanha vou almocar lah.

Thursday, April 15, 2004

Na verdade o sol saiu e ja nao tah mais tao frio assim.
Bom. Eu nao tava imaginando que a historia fosse por esse caminho. Obrigado pela tentativa. Mas nao. Nao eh isso. Alias, nem sei se a mina precisa aparecer no bar com o coroa. Eu achei que o roteiro deveria ir por um caminho... nao, deixa pra la. Continuem mandando ideias.

Daqui a pouco volto para o cutting room para terminar a montagem de 3:15. Meu proximo filminho.

Nova Iorque continua fria e chuvosa. Vou tentar ligar pra uma mina que desapareceu.

Ateh mais ver.

Wednesday, April 14, 2004

Bom galera, hoje quando eu andava meio durmindo meio acordado, eu tive uma ideia pra uma historia. Uma coisa meio novaiorquina que eu to pretendendo escrever para filmar no proximo semestre. Eu levantei, rabisquei umas notas no meu caderninho mas a ideia ficou incompleta. Entao tive a ideia de joga-la na rede pra ver o que acontece. Vou tentar dar uma traduzida-resumida pra passar oargumento e espero que voces contribuam para o final dessa historia. Seus putos!
La vai:

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Temos o nosso protagonista. Ele eh um bartender em um restaurante fino em Manhattan. A noite estah meio devagar. E ele conversa com seus colegas de trabalhos, garcons e bussers (aqueles que servem agua e tiram os pratos), e comeca a contar uma historia, que se mistura em momentos no restaurante e momentos de flashback. Essa eh a historia dele.
Um dia o cara conhece uma mina.
Depois do segundo "date" (porque por aqui o negocio funciona assim mesmo - com encontrinhos marcados) eles acabam indo pra cama. His place. Mas ela faz o seguinte alerta:
"Se nos transarmos agora, comigo semi-bebada e tudo mais, eu provavelmente vou desaparecer."
O cara pergunta
"Porque?"
E ela
"Nao sei, eu costumo fazer isso quando as coisas acontecem assim muito rapido. Eu nao retorno as ligacoes, fazo jogo duro..."
O cara achou graca e nao acreditou nela. Ele nao se conteve (tava numa tirica filhadaputa e ela era tri gostosa) e eles transaram. E depois disso ela desapareceu.
"Desapareceu assim, que nem David Coperfield?" Perguntou o garcon.
"Nao, demente..." E continuou a explicacao da historia.
No outro dia ela fez cafe para ele. eles se divertiram. Deram risadas e foram abracados ateh a estacao do trem onde, la, cada um tomou o seu rumo. E dopois disso ela desapareceu. Bem como havia alertado. Nao retornava as ligacoes do cara. Ele chegou a ligar de telefone publico, para que ela nao reconhecesse o numero. Mas assim que ela reconhecia a sua voz desligava o aparelho. Ele foi ath o lugar onde se conheceram, onde ele achava que poderia encontrar ela. Mas nada. Finalmente ela mudou o numero de telefone e toda vez que ele ligava dava um mexicano atendendo. "No no hay ninguna senora en este telefono" (ou coisa parecida). O cara ja esta desesperado.
Enquanto lamenta suas pitangas para seus colegas, um casal adentra o restaurante. Um senhor nos seus 40 e tantos, 50 anos, robusto, forte, broco, acompanhado de uma linda jovem. Ela. Sim meus amigos, ela mesma. Ele fica calado suando frio olhando pra ela abestalhado. O veio pergunta pra ela "O que voce vai querer, honey?". Ela vira pra ele como se nunca tivesse visto ele na frente e pede um Sea Breeze, o senhor pede Grey Goose Gibson. Ele baixa a cabeca e fica revirando o bar em baixo dele pensando, Sea Breeze: Vodka, Grapefruit, Cranberry, Tall Glass, lemon wedge, tall straw. Ele serve ela, a o batom fica marcado no canudo. "Ela nao usava batom" ele pensa...

E agora? Agora eh com voces. Porque que ela sumiu? Ela eh uma puta? Ou o cara eh o pai dela?
Pensem fuckers! E me deem ideias.
You know,

As vezes eu fico realmente chateado com minha situacao mental. Me refiro ao meu defcit de atencao e hiperatividade. No final de fevereiro, quando eu me mudava para o meu apartamento no brooklyn, eu consegui a proeza de esquecer TODOS os meus cds no banco da plataforma do metro e embarquei para nunca mais velos. Alerta aos meus lapsos de atencao, tentei me policiar para que esse tipo de desatencao nao ocorresse jamais. Hoje quando esperava o L para manhattan, botei o meu guarda-chuva ao meu lado no banco e disse pra mim mesmo "nao esquece, debil mental". Peguei o meu livro, Kings of The Infinite Space, e comecei a ler esperando a chegada do trem. O trem abriu a porta eu entrei lendo o meu livro e deixei pra tras a porra do guarda chuva. Tudo bem que nao era nada valioso, era so uma porra dum guarda-chuva que eu vou ter de comprar novo, porque nao era meu. Mas isso me faz ter a seguinte conclusa: AS DROGAS NAO ESTAO FAZENDO EFEITO.

Monday, April 12, 2004

Ola amiguinhos!

Depois de muita insistencia eu resolvi tomar vergonha na cara e voltar a escrever no meu blog.

Entao. Muita coisa se passou desde que eu escrevi por aqui pela ultima vez. Estou trabalhando comom bartender em um restaurante portugues super fino no West Village. Para voces terem uma ideia, esse sabado eu fiz um drink para o Harvey Keitel e na sexta-feira passada eu servi um vinho para a Zelia Cardoso de Mello (blerg). Entao. O lugar eh fino, soh tem gente fina e eu ando esfolando o meu rabo pra fazer tudo direitinho para poder descolar umas verdinhas. Mas o legal mesmo sao as pequenas expressoes portuguesas que eu to aprendendo. Por exemplo, quando voce vai a portugal ve alguma coisa bacana, legal, voce diz que giro. Se tu vai dizer que viu uma mina descolada da hora tu diz "aquela e uma rapariga girissima". Quando se vai falar "Que absurdo", use ao invez a expressao "Tem que se lhe diga!". Uma agua com gas eh uma "agua de picos". E se uma crianca mal educada sair da linha podes dizer sem medo "Vais apanhar no cu, seu putinho".
Eh galera. Vivendo e aprendendo em NY.
A hora que eu estiver mais inspirado eu escrevo mais. Agora eu tenho que bater um trabalho pra facu. Ok?
Entao vai te fu.
hahaha!

Thursday, March 11, 2004

Ontem

Ontem comprei 2 DVDs. Um se chama The Works Of Director Michel Gondry e o outro se chama The Works of Director Spike Jonze. Precisa explicar?

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Ontem fui ao bar que o meu roommate abriu no Lower East Side. Tomei todas, peguei um taxi de volta pro Brooklyn, fui com meu outro roommate comer um burrito de galinha num mexicano que fica aberto 24 horas, comecei a passar mau de tao bebado, sai pra pegar um ar, o meu roommate saiu atraz de mim achando que eu tinha ido embora nos (com acento) nos (sem acento) perdemos. Voltei pra dentro do restaurante e fiquei esperando o cara, achando que ele tava no banheiro. Peguei no sono dentro do restaurante. Quando acordei perguntei onde o cara tava e me disseram que ele tinha ido embora a horas. Sai pela rua caminhando e o cara me ligou perguntando onde eu tava. Nem eu sabia onde eu tava, Mas descobri que estava caminhando na direcao oposta da minha casa. Que borrachice. Hoje eu to tonto.

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Ontem mandei fazer meu oculos novo. Custou a bagatela de U$ 125,00. Isso que era um oculos barato.

Ateh amanha!

Sunday, March 07, 2004

Yo!
What up? Alguem ainda visita essa porcaria? Se tem alguem do outro lado, deixa um comment porque eu quero saber se ainda escrevo por aqui, se nao, what's the point. Right? Anyway. Eu na verdade nao tenho muito o que escrever a no ser pra dizer que eu to morando no Brooklyn. E eu to me sentindo meio Brooklyn, tambem. Meio na periferia. Acho que ainda nao penetrei. E todo mundo sabe que se nao penetrar na o tem a menor graca. E eu nao estou falando so no sentido figurado da coisa, nao. Oh well. At least I can still get drunk. Pra quem se interessa, eu to morando em Williamsburg (quase fora de Williamsburg), que e um bairro bacaninha aqui do Brooklyn. Mas eu nao to mais na parte bacaninha e sim na parte onde nao precisa se falar ingles, porque todo mundo fala espanhol. Mas eu gosto da vizinhanca. Moro com 2 colombianos e um argentino. Nao estou empregado, to duro e nao to comendo ninguem (mas isso nao e novidade). Fuck. Vou dormir. To cansado. Piss off, now!

Saturday, February 14, 2004

Buenas,

Hoje to aqui pra contar de um episodio que aconteceu comigo nessa ultima quarta feira. Ou sera que foi segunda? Bom, nao interessa. O que interessa e que aconteceu uma parada tao punk, que ate hoje (sabado 14/02) eu ainda nao superei. A cena se passa na esquina da rua 17 com a Park Avenue South, bem no Union Square no que inicia o East Village em Manhattan. Chego alguns minutos mais cedo para encontrar minha prima Cris e seu amigo Georgeginho - ele e brasileiro, tambem. Entro numa liquor store que tem naquela exata localizacao e fico passando os olhos pelas biritas enquanto o relogio nao chega as duas da tarde. Cinco minutos depois das duas da tarde, olho para fora e vejo o George no canteiro que tem proximo a sinaleira no cruzamento da Park com a 17th. Chamo o George e ele me espera atravessar a rua. Quando chego do outro lado cumprimento o cara e pergunto pela minha prima. Ele puxava o celular para ligar pra ela. Foi quando um barulho deum longo barulho de pneus freiando no asfalto chamou a nossa atencao. Viramos e assistimos a um taxi que vinha so sentido leste-oeste bateu com um carro branco que decia a Park Ave. Bang. A batida foi dura, mas nao foi das mais violentas. O que se segui a isso foi realmente uma estupidez. O taxi perdeu o controle da direcao e acelerou para cima do mesmo canteiro onde estavamos passando a uns cinco metros de nos, dando de frente com um carro que vinha no outro sentido. O desastre nao parava por ai. No canteiro que em que estavamos tambem estava uma velinha de cadeira de rodas que foi atingida com a forca absurda. A velinha voou no ar a uma altura e uma distancia de uns cinco metros e aterrizou de cara no chao. Quando persebemos o que era aquele objeto que atterizava a alguns metros de nos ecoou entre eu e o George um estupefato e vagarozamente pronunciado "Oh, my God". Ficamos parados sem reacao ateh que alguem chegou perto da senhora, provavelmente alguem que a conduzia, e essa pessoa pega a senhora pela e tenta a levantar. Mas a velinha esta completamente mole, apagada, de cara ainda no chao. Pessoas em volta gritam "somebody call 911!" uma poca de sangue comeca a se formar embaixo da velinha. Puxo o George e digo que nao posso ver essas coisas. Saimos os dois com as pernas bambas. Ja se passaram uns trinta ou quarenta segundos desde que a senhora foi atropelada. O George tentava ligar para o 911, mas nao conseguia. Ficamos nos perguntando um para o outro, o que era essa cena que agente tinha acabado de ver. Pensamos que poderiamos ter morrido e tudo mais. Nao tinha passado um minuto do acidente e a ambulancia ja estava no local. Dez segundos depois ja havia tres viaturas da policia, outra ambulancia e um caminhao de bombeiros se aproximava. Sentamos no outro lado da Union Square e ficamos esperando minha prima chegar do metro. Nao sei o que aconteceu com a velinha. Estou bem certo de que ela deve ter morrido. Agradeci depois ao escapulario que ganhei da vo da minha namorada, junto com o Sao Miguel na minha carteira e ao rosario no meu quarto. E olha que eu nao sou la muito religioso. Mas que eu me caguei, me caquei.

beijos a todos (desculpe a falta de acentos)
Marcello Lima
Nova Iorque, sabado, 14 de fevereiro, dia dos namorados. Juju te amo.

Thursday, February 05, 2004

Hoje fou visitar um Loft de uma colombiana que tava querendo alugar um quarto. Deixa eu explicar como funcionam os tais lofts para que voces tenham realmente nocao do que e a coisa e nao serem enganados pela percepcao filmistica que todos tem. Bom, o que mais tem aqui pela area de williasburg, Brooklyn, sao edificios antigos bem bacaninhas e velhos predios industriais com aspecto de abandonados. Esses predios industriais foram tomados por artistas, musicos, malucos em geral que alugam um grande espaco aberto, com pe-direito altissimo e dividem o lugar com paredes de madeira e fazem pequenos quertos, banheiros e cozinhas e dividem com outros pobres coitados que querem ser cool. A vizinhanca perto da Avenida Bedford em Williamsburg e realmente muito legal. Sao varios quarteiroes infestados de cafes, cyber-cafes, lojinhas, barzinhos, restaurantes, livrarias, etc, etc. O loft que eu fui visitar hoje era nessa zona. Estava tudo legal, a vizinhanca o velho predio com cara de abandonado, tudo muito malandrinho. O problema foi quando eu entrei no predio. O lugar ja fedia no corredor. Depois de subir seis andares, bufando escada acima, eu entrei no tal lugar. tinha uma porta que levava a um corredor imundo e escuro. Uma outra porta levava ao apartamento da colombiana. O lugar ate que tava arrumadinho, paredes brancas, janeloes que davam um belo panorama do Brooklyn, sofas, sonzinho, alguns posters bacanas pop-artisticos. O quarto para alugar tambem nao era ruim. O problema e que para ir no banheiro eu teria que sair para o corredor escuro e sujo, onde tinham pequenos cubiculos de madeira com banheiro, depois um chuveiro e um cantinho para um fogaozinho eletrico de duas bocas e uma galadeira, no estilo maloca-da-vila-maria-degolada. E isso tudo era dividido entre tres apartamentos. Achei aquilo um belo dum chiqueiro. Estou tendo um pequeno gostinho do que ser pobre.
Mas a luta, companheiros. Ate mais.

Wednesday, February 04, 2004

So,

This is me in New York.
Nao eh facil achar um lugar legal pra morar nessa cidade. Hoje fui ate buscwick, que fica no final do Brooklyn, perto do Queens, para ver um ape pra dividir com uns malucos. Cheguei la 10 da manha como o combinado e os fiadasputa nao estavam em casa. What a fuckin waste of time. O edificio ate que parecia ser interessante. Um velho warehouse grafitado nas paredes, todo marron, de tijolo a vista e tudo mais. Resolvi dar um tempo pra ver se os putos apareciam em casa e fui ate uma lanchonete mexicana que tinha na esquina. O frio nao era insuportavel, mas ficar parado na rua com a gripe que eu estou seria certamente sucidio. A lanchonete mexicana se chamava La Hacienda. Quando entrei, para minha surpresa, me deparei com a imagem da Danielle Winits falando espanhol. Era uma dublagem cretina, feita por uma voz estridente. Tal aberracao era a novela uga-uga (ou uga-buga, sei la) que passava na rede Telemundo. Comi um sanduiche de Pastrami bem gorduroso. Liguei mais uma vez para os putos do apartamento, deixei uma mensagem educada na secretaria e cai fora. Sentado no trem L de volta para Manhattan, fiquei arrependido de nao ter mandado os caras do apartamento tomar no cu. Poderia ter deixado uma mensagem em portugues ateh. Tipo, seus filhos da puta, me fizeram sair de manha despencando nesse frio do caralho, eu gripado, arriscando pegar uma pneumonia pra voces esquecerem do nosso compromisso! Vao se fude!
De volta a procura. Acho que vou ter que ir para um apartamento caro mesmo. Amanha estarei em Williamsburg de novo.Achoque vou alugar um loft e ficar tres comendo doritos.

Monday, January 26, 2004

É impressionante. Eu gostaria de ter um dia útil a mais. Um dia só pra eu poder fazer tudo o que eu preciso. O problema é que se eu tivesse esse dia, eu ficaria tão a vontade que não consiguiria fazer tudo o que eu tenho pra fazer.

Vagabundagem é foda. O texto a seguir é o relato do fardo que carrego com o peso da glória. Ora, o troféu era pesado pra caralho.


O Dedo atorado

Ontem, enquanto minha namorada me ajudava a arrumar o quarto, aconteceu um pequeno acidente. um troféu caiu de uma estante em cima do meu dedinho do pé. O segundo, logo depois do dedão. Arrancou a unha num único golpe. Eu fi o exato momento em que o troféu decepou o dedinho. Tirou uma tampa. Thufi! E já se era minha unha. Ficou ainda pendurado por um pedacinho de carne. Fiquei tão espantado com a cena que não senti qualquer tipo de dor por uns nove segundos. E aí ela veio. Mordi a mão e deitei na cama cobrindo a cara com o edredom desarrumado. Abafei o grito, que soou grave e. E fiquei lamentando o azar por mais um tempo enquanto minha namorada assoprava o dedinho e limpava com um pedaço de papel higiênico. Nessa hora os pensamentos mais idiotas me ocorreram. "Será que vou ter que dismarcar a festa no Gum?". É óbvio. Liguei para um amigo meu que estava para chegar a qualquer momento e pedi para que troussesse uma tesoura, gase, água oxigenada, mertholate e esparadrapo. O cara se espantou, ia sair correndo de casa. Trinta segundos depois liguei novamente. "Esquece! Eu tô indo pro pronto-socorro".

(continua)

Wednesday, January 14, 2004

O Mundo Cão e a Poesia

Viver é um negócio arriscado. Isso é uma convicção que eu tenho. Nossa vida está sempre a poucos passos de se tornar uma eterna agonia. É verdade. Basta se estar vivo e você já corre pelo menos o risco de morrer um dia. Para não falar de coisas piores que a morte. Sabemos de tudo isso e mesmo assim, quando uma vida se acaba nos causa uma imensa perplexidade.

21 Gramas é um filme que me deixou perplexo. O segundo filme do mexicano Alejandro Gonzáles Iñarritu (de Amores Perros) é pesado. Mostra um mundo onde morte e dor andam de mãos dadas, com um pouco de amor desesperado pedindo passagem. A câmera documental corre por paisagens nubladas em uma fotografia granulada, cinza, escura e fria. E o pior é que isso nos emociona por ser demasiado verossímil. “Parece vida real” foi o comentário de uma moça que eu pude escutar quando saia do cinema.

Iñarritu, apesar de ter escolhido o gênero do melodrama e ter um certo gosto por sangue, sabe agradar o público com sua direção. A montagem em tempo não linear, que chega até a confundir o público no começo do filme, é muito bem amarrada. Naomi Watts, Sean Penn e Benício Del Toro estão impecáveis. E o filme em muitos momentos dá aquele arrepio nos cabelinhos da nuca, sabe? E isso é um ótimo termômetro para o cinema. Não me surpreende se esse for indicado o filme “maldito” do Oscar desse ano.

Quando saí do cinema, eu caminhava com as pernas anestesiadas. Uma mistura de admiração por um cinema tão bacana, inteligente e de verdade, ao mesmo tempo que estava chocado. Como se eu tivesse ouvido uma má notícia. Pensei “é, a viver é um negócio arriscado”. Estava confuso e pessimista. Mas fui salvo dias mais tarde por Woody Allen. Em Hannah e suas irmãs, o personagem de Woody Allen caminha pelas ruas de Nova Iorque desesperado frente a questões que dizem respeito ao fim da vida e um sentido para isto tudo. Ele entra no cinema para esfriar a cabeça. Lá dentro ele se deixa levar pela fantasia enquanto assiste a um filme dos irmãos Marx e tudo fica claro. Vou aproveitar enquanto eu posso.

Monday, January 05, 2004





A Namorada de Henrique

Henrique era foda. Tenho que tirar o chapéu para o cara. Foi dele o golpe mais audacioso e genial que um cara pôde inventar. A Academia dos Caras-de-Pau do Brasil, um grupo de tomadores de cerveja da Cidade Baixa que não devia ter mais de sete membros - comigo incluso - lhe conferiu todos os prêmios do ano de 03. Inclusive o cobiçado canalha do ano.

Vamos falar a verdade. Monogamia nos dias de hoje é um termo quase fantástico. Nenhum homem está livre se deparar com uma situação de traição. E as mulheres também. Somos todos humanos, pô. Mas o mais difícil da história é sair ileso da vida dupla. Tantas chances de tropeçar na língua, e ter desculpas suficientes na manga para as escapadas. Não fácil. Quem já enfrentou a fúria de uma mulher traída não gosta nem de lembrar. Nosso amigo Henrique já passou por essa situação e diz que não é legal.

Já fazia um tempo que Henrique estava solteiro. Passava reclamando:

- É impressionante. Quando tu ta casado elas caem em cima com tudo. É eu ficar solteiro de novo que elas somem.

Mas a seca não durou mais de dois meses. Henrique era um filhadaputa atraente. Tinha uma lábia maligna. Em uma fase comia três na mesma semana sem nenhuma delas desconfiar uma da outra. A Academia apostou que não demoraria pro cara se amarrar de novo.

E aí chegou a Ana Maria. Linda. Do tipo que dá prometer casamento em algum canto exótico e cumprir. Mas Henrique tinha outro plano. Após alguns beijos fogosos, ele a chamou num canto. Olhou para os lados com cara de preocupado e confessou:

- Tenho que ser sincero contigo Ana Maria. Eu fiz uma coisa não muito legal. Desabafou com um suspiro tentando bancar o tipo sensível.
- Fala. Ana Maria se encheu de compaixão.

E largou a mentira brilhante:

- Eu tenho uma namorada.

Ana Maria olhou para os lados um pouco atônita. Olhou de volta para ele ainda séria. Henrique esperou até o tapa. Mas Ana Maria deu uma gargalhada. Henrique fez um “shhh” com o dedo na frente da boca e riram baixinho por mais um tempo. Pediu segredo para Ana Maria. Disse que tinha adorado ela, que se mantessem o segredo poderiam se ver mais vezes.

Trato feito, Henrique saía quase todas as noites. Algumas delas ele reservava pelo tórrido romance com a tal dita amante. Nas outras podia passar o rodo. Quando encontrava Ana Maria em um bar trocavam sinaizinhos e piscadelas. Às vezes falavam baixinho:

- Disfarça que aqui ta cheio de amigas dela.

E se beijavam de porta trancada no banheiro.

Inventou até um nome para a traída. Sabrina. A pobre coitada. O romance durou pouco. Ana Maria cansou da vida de amante e arranjou um namorado.

Abalado, Henrique terminou definitivamente com Sabrina e exigiu que Ana Maria dispensasse o tal pretendente. Mudou-se com ela no ano seguinte para alguma cidade da Espanha de onde não voltaram mais.


Sunday, January 04, 2004

Edu e Alice

O Edu já namorava a Alice fazia quase dois anos. A Alice era uma dessas publicitárias super descoladas. Trabalhava na área de planejamento ganhava todos os prêmios da função. Tinha um ótimo senso de humor, inteligentíssima. Era completamente apaixonada pelo Edu. Dava presentes pro cara, gravava CDs com as músicas que ela julgava ter a ver com os dois, não enchia o saco tava sempre um doce. Pelo que soube eles jamais brigaram. Era uma namorada exemplar. Só tinha um único problema. Era feia pra cacete. Nossa. Ela era um dragão, coitadinha. As orelhas de abano, o cabelo ruim, levemente estrábica. A essa altura a beleza (ou a falta dela) em Alice começara a incomodar Edu. Era um fardo e tanto que esse rapaz carregava. Dava para perceber na sua conduta. Os suspiros, as poucas palavras, a timidez para uma troca de afeto em público. Não costumava a ser assim.

Seu caso começou porque Edu estava em uma fase em que a única mulher que lhe dava bola era Alice. Como a solidão já se arrastava por meses resolveu dar uma chance para ela. E como ninguém melhor aparecia acabaram por engatar no namoro. Quando se viu já eram íntimos. Iam ao cinema, jantares fora, as festas do círculo publicitário, dedicações públicas no microfone. Um carinho comovente até certo ponto.

Certa manhã negra de agosto, uma angústia bateu Edu. Ele olhou para o seu lado na cama e lá estava ela. Deitada, dormindo de boca aberta, toda descabelada. Edu olha para o teto e dá um longo suspiro. O despertador toca e acorda a bela adormecida. Edu fecha os olhos e finge estar dormindo. Ela dá um beijo em seu rosto e levanta. Naquela manhã Edu não trabalhou. Ficou na cama por mais uma hora. Nesse período se masturbou pensando em uma amiga de Alice. Que não era muito bonita mas perto de Alice era uma miss.

Durante o banho deixou a água bater forte em sua cabeça por uns trinta minutos sem sequer tocar no sabonete ou no xampu. Deu-se conta de que seu relacionamento não tinha mais sentido. Alguma coisa deveria de ser feita.

Na porta da geladeira tinha um bilhete de Alice preso por um imã em forma do Elvis Presley. Começava dizendo: “Amor,...”. Edu nem leu o resto. Abriu a geladeira e tinha um sanduíche com salada e atum embrulhado em um saquinho plástico e um suco de laranja. Aquelas gentilezas todas já estavam fazendo Edu ficar irritado.

Naquela mesma tarde, quando chegou no escritório mandou um e-mail para Alice. Sem ‘amor’ ou rostinhos sorrindo. Somente um seco e direto “preciso falar contigo mais tarde, me encontra no Osvaldo às 8. Bj Edu.” O ‘Bj’ era para não parecer tão seco. Ele não queria estragar o dia de Alice antes da hora de sua conversa.

O Osvaldo era um restaurante da moda. Chique e moderninho, freqüentado por executivos, metrassexuais, gays, publicitários, modelos e artistas. Um lugar nada reservado ou discreto. Mas as belas mulheres que lá habitavam o ajudariam a fazer o que deveria ser feito. Além disso era perto da agência onde Alice trabalhava.

Quando Alice chegou Edu já estava no segundo chopp. Deu um beijinho em sua boca, se sentou e chamou o garçom pelo nome. Ela já era freguês do lugar. Todos gostavam dela. Era irritante. Ela falou de um cliente novo, as férias que planejava tirar em novembro e depois de falar por todo o tempo que comiam o tradicional filé com risoto ao funghi, ela perguntou a Edu o que ele queria falar. Ele desviou o olhar da loira que estava no bar e respondeu que havia esquecido, que não devia ser nada importante. Durante a sobremesa ela perguntou para Edu se tudo estava bem, pois ele parecia estar um pouco distante, distraído. Ele respondeu que sim, que tudo estava perfeito. Durante o cafezinho não trocaram uma única palavra. Deixaram do restaurante de mãos dadas.

No caminho de volta pra casa o silêncio perdurou por uns 10 quarteirões. Só o que se ouvia era o barulho de rodas sobre o asfalto molhado da chuva. O rádio permaneceu desligado o tempo todo. No décimo primeiro quarteirão Alice resolveu quebrar o silêncio. De voz embargada e os olhos cheios de lágrima pediu para que Edu se abrisse. Falou que ela vinha notando sua crescente insatisfação. Disse que preferia estar sozinha a estar com alguém que estivesse infeliz ao seu lado. Edu ainda com uma angústia por magoá-la suspirava cada vez mais fundo. Finalmente resolveu abrir o jogo e assumir que queria dar um tempo em seu relacionamento. Ambos sabiam o que um tempo iria significar. Ele sabia que depois que ela batesse a porta do carro jamais os dois dariam as mãos novamente. Jamais ele ouviria dedicatórias públicas em um microfone de um prêmio para publicitários. Mas depois que assumira sua infelicidade com o relacionamento também não tinha mais volta. Era aquilo. O fim. O momento que ele vinha adiando por tanto tempo. Alice disse apenas tchau. Não deu beijo de despedida nem lhe desejou nada de bom ou de ruim.

Quando parou o carro na garagem de seu prédio, Edu ficou calado dentro do carro. Suspirou mais uma vez, alisou as mãos sobre o volante e começou a chorar copiosamente. Tirou um lenço do porta-luvas, assuou o nariz, respirou fundo e desceu do carro. Acionou o alarme e foi dormir.

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Friday, January 02, 2004

Jornal do Almoço


Estou no Cavanhas. Tive uma vontade alucinada de comer um xis português com batata frita. É uma e dezoito da tarde. Esquecei meu caderno em casa. Tive de improvisar minhas anotações costumeiras em um folheto promocional que eu ganhei numa sinaleira. Dou uma conferida no folheto antes de rabisca-lo. É de uma loja de uma loja de autopeças chamada Pedroso. Com dois endereços um em Teresópolis e outro na Ipiranga. Tinha uma promoção em surdinas, autofalantes, rodas e embreagens. Mas de volta à Lima e Silva, onde fica o Cavanhas, tenho de levantar a mão para ser atendido. Os garçons não me deram muita atenção, talvez por eu estar, até então, de cabeça baixa riscando um papel. A logomarca do Cavanhas é um garçonzinho todo de branco e gravata borboleta vermelha carregando uma bandeja com um xis, um chopp e uma porção de batata frita. Na verdade os garçons de lá vestem uma camiseta amarela e um boné azul.
Fiz o meu pedido. Pra beber, um guaraná diet com gelo. Eles não tinham uma rodela de laranja para colocar dentro do copo. Uma frescura que inventaram de uns anos pra cá.
Quando o garçon voltou, trouxe junto com o xis português e a batata frita que é servida por cima do pão, o garçom trás um copo de 250ml servido até a metade com maionese e uma colherinha, dessas de cafezinho, enterrada nela. Não levei muita fé na maionese, mas resolvi arriscar no ketchup. Com os olhos longe das anotações, comecei a observar o movimento a minha volta com mais calma.
Tinha uma televisão onde passava um jogo de futebol da seleção sub-20. Perdiam para a Eslováquia por um a zero. Duas mesas depois de mim, três colegas, de trabalho, é bem provável. Almoçavam algum tipo de xis e dividiam uma coca-cola tamanho família. Pelos trajes, um tanto cafonas, imaginei que fossem estagiários de informática ou engenharia. Não sei porquê eu pensei isso, se foi mesmo a vestimenta, ou apenas um estereótipo impresso escancarado em suas caras. Falavam do jogo do Inter. Me lembrei de quando almoçava com os estagiários do meu antigo trabalho. Nós dividíamos um refrigerante tamanho família também. Os estagiários se levantaram e foram pagar a conta no caixa. Havia mais dois casais nas extremidades do restaurante, mas conversavam discretamente. Não pude ouvi-los nem mesmo fazer qualquer tipo de julgamento deles. É uma mania trouxa, eu sei.
Comecei a prestar mais atenção no jogo. O Brasil empatou. Pensei comigo mesmo que deveria voltar a praticar algum tipo de esporte. Decidi que iria caminhar ao final da tarde.
A porta de ferro do Cavanhas é fechada provocando um rangido violento. Eles já não recebem mais clientes a partir desse horário. No fundo do restaurante dois garçons almoçam um ala minuta e tomam uma coca-cola grande.
Meu guaraná Diet já terminou, fico ainda mastigando um gelo que tem no copo. Retomo as anotações no folheto da Pedroso Autopeças. Escrevo algo que eu julguei ser esperto naquela hora. Uma pequena frase que dizia que os vícios de hoje são diferentes dos de ontem. Sendo os vícios de ontem álcool e tabaco e hoje nossos vícios são colesterol e aspartame. É um pensamento idiota, eu sei. Como se ninguém mais bebesse nem fumasse nos dias de hoje, e como se não tivesse colesterol no tempo da minha vó. Mas de qualquer maneira, o que eu quis dizer é que hoje agente tem meios mais variados de autoflagelação. Colesterol e substâncias cancerígenas são só algumas delas.
Botei meus óculos escuros, que me deixam com cara de mosca, fui até o balcão, paguei e saí. Ao botar o pé na rua, a primeira coisa que vi foi uma placa que dizia “um mundo melhor é possível”. Era do fórum social mundial que aconteceu em Porto Alegre dez meses atrás. Olhei para o céu e vi que o tempo estava fechando.
Acho que não vou caminhar hoje.

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