Monday, January 05, 2004
A Namorada de Henrique
Henrique era foda. Tenho que tirar o chapéu para o cara. Foi dele o golpe mais audacioso e genial que um cara pôde inventar. A Academia dos Caras-de-Pau do Brasil, um grupo de tomadores de cerveja da Cidade Baixa que não devia ter mais de sete membros - comigo incluso - lhe conferiu todos os prêmios do ano de 03. Inclusive o cobiçado canalha do ano.
Vamos falar a verdade. Monogamia nos dias de hoje é um termo quase fantástico. Nenhum homem está livre se deparar com uma situação de traição. E as mulheres também. Somos todos humanos, pô. Mas o mais difícil da história é sair ileso da vida dupla. Tantas chances de tropeçar na língua, e ter desculpas suficientes na manga para as escapadas. Não fácil. Quem já enfrentou a fúria de uma mulher traída não gosta nem de lembrar. Nosso amigo Henrique já passou por essa situação e diz que não é legal.
Já fazia um tempo que Henrique estava solteiro. Passava reclamando:
- É impressionante. Quando tu ta casado elas caem em cima com tudo. É eu ficar solteiro de novo que elas somem.
Mas a seca não durou mais de dois meses. Henrique era um filhadaputa atraente. Tinha uma lábia maligna. Em uma fase comia três na mesma semana sem nenhuma delas desconfiar uma da outra. A Academia apostou que não demoraria pro cara se amarrar de novo.
E aí chegou a Ana Maria. Linda. Do tipo que dá prometer casamento em algum canto exótico e cumprir. Mas Henrique tinha outro plano. Após alguns beijos fogosos, ele a chamou num canto. Olhou para os lados com cara de preocupado e confessou:
- Tenho que ser sincero contigo Ana Maria. Eu fiz uma coisa não muito legal. Desabafou com um suspiro tentando bancar o tipo sensível.
- Fala. Ana Maria se encheu de compaixão.
E largou a mentira brilhante:
- Eu tenho uma namorada.
Ana Maria olhou para os lados um pouco atônita. Olhou de volta para ele ainda séria. Henrique esperou até o tapa. Mas Ana Maria deu uma gargalhada. Henrique fez um “shhh” com o dedo na frente da boca e riram baixinho por mais um tempo. Pediu segredo para Ana Maria. Disse que tinha adorado ela, que se mantessem o segredo poderiam se ver mais vezes.
Trato feito, Henrique saía quase todas as noites. Algumas delas ele reservava pelo tórrido romance com a tal dita amante. Nas outras podia passar o rodo. Quando encontrava Ana Maria em um bar trocavam sinaizinhos e piscadelas. Às vezes falavam baixinho:
- Disfarça que aqui ta cheio de amigas dela.
E se beijavam de porta trancada no banheiro.
Inventou até um nome para a traída. Sabrina. A pobre coitada. O romance durou pouco. Ana Maria cansou da vida de amante e arranjou um namorado.
Abalado, Henrique terminou definitivamente com Sabrina e exigiu que Ana Maria dispensasse o tal pretendente. Mudou-se com ela no ano seguinte para alguma cidade da Espanha de onde não voltaram mais.
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